A morte não costuma ser um tema presente em rodas de conversa, festas ou celebrações, né? E quando envolve falar disso com as crianças, parece ainda mais difícil.
Mas será que a gente precisa mesmo se antecipar e explicar para elas o que é a finitude? E quando a morte bate à porta e leva alguém muito próximo… Como fugir dessa conversa?
O luto não é vivido apenas por adultos. As crianças também sofrem com a perda, mesmo que expressem isso de formas diferentes (Corr & Balk, 2010).
Quem nunca ouviu frases como: “Ah, é criança, logo supera!” ou “Nem precisa contar, ela nem vai entender…” ou ainda “A vovó virou estrelinha e foi morar no céu…”?
Cada um encontra um jeito de contar, tentando proteger. Mas a verdade é que as crianças são muito mais espertas e sensíveis do que imaginamos. Elas percebem quando algo está diferente, quando o clima muda, quando o choro aparece — e, principalmente, sentem a ausência.
Segundo Elisabeth Kübler-Ross e David Kessler (2005), o luto infantil pode ser vivido em ondas, com comportamentos que variam da tristeza intensa à aparente normalidade em questão de horas. Isso não significa que a criança não esteja sofrendo — ela apenas processa a perda de forma diferente.
Por isso, não devemos subestimar seus sentimentos, nem tentar esconder totalmente a dor. A morte, independentemente da sua crença, é parte da vida. E mesmo que a gente quisesse, não dá pra poupá-las do sofrimento. O que podemos — e devemos — fazer é acolher, explicar com sinceridade e dar segurança emocional.
A dor não desaparece com palavras bonitas, mas a forma como conversamos pode aliviar a angústia, diminuir a confusão e até ajudar a criança a encontrar sentido naquele momento tão difícil (Neimeyer, 2001).
Se você está passando por isso e precisa conversar com uma criança sobre a perda de alguém querido, aqui vão algumas orientações acolhedoras, com base em pesquisas e na prática clínica:
- Fale com palavras simples e verdadeiras — mentiras ou metáforas confusas podem gerar medo ou culpa (Worden, 2013);
- Dê espaço para ela fazer perguntas e expor seus sentimentos, mesmo que sejam difíceis de ouvir;
- Respeite o tempo dela — crianças vivem o luto aos poucos, em meio às brincadeiras e silêncios;
- Ofereça acolhimento, rotina e muito amor. A previsibilidade ajuda a recuperar a sensação de segurança (Parkes & Prigerson, 2010); e
- E, se sentir necessidade, procure ajuda profissional psicológica.
Não existe jeito certo ou perfeito, mas existe um jeito mais humano e mais amoroso. No fim das contas, o que mais ajuda a criança a atravessar esse momento é não se sentir sozinha.
Bibliografia:
KÜBLER-ROSS, Elisabeth; KESSLER, David. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
NEIMEYER, Robert A. Meaning reconstruction & the experience of loss. Washington, DC: American Psychological Association, 2001.
WORDEN, J. William. Aconselhamento e terapia do luto: um manual para profissionais de saúde mental. São Paulo: Springer Publishing, 2013.
PARKES, Colin M.; PRIGERSON, Holly G. Luto: Estudos sobre o luto na vida adulta. São Paulo: Routledge, 2010.
CORR, Charles A.; BALK, David E. Children’s encounters with death, bereavement, and coping. New York: Springer Publishing Company, 2010.