Em fevereiro de 2024, eu perdi minha mãe… Confesso que foi o pior dia da minha vida. Não foi apenas a perda de alguém; senti que perdi uma parte da minha origem, do meu porto seguro, da minha felicidade e do meu aconchego.
Depois desse dia, pude sentir na pele como o luto é um processo muito estranho, por diversos aspectos. Parece que o seu mundo desmoronou e que você nunca mais conseguirá viver sem aquela pessoa. Acha que jamais voltará a sorrir como antes ou a sentir felicidade.
Além da tristeza, a pessoa enlutada pode ter sintomas físicos. Ou seja, não é só a alma que está machucada, o corpo também sente! No meu caso, minha ansiedade aumentou demais. Tive alterações na memória, na concentração, no sono, além de irritabilidade, dor no estômago e por aí vai (rs).
De acordo com a literatura sobre o luto, esses sintomas variam de pessoa para pessoa, dependendo da intensidade do vínculo, das circunstâncias da perda e dos recursos de enfrentamento individuais. Vejamos alguns deles:
1. Sintomas Emocionais:
- Tristeza profunda e sentimento de vazio;
- Culpa e autorrecriminação;
- Ansiedade e medo;
- Raiva, que pode ser direcionada a si mesmo, a outros ou ao falecido; e
- Solidão e sensação de isolamento.
2. Sintomas Físicos:
- Alterações no apetite e no peso;
- Distúrbios do sono, como insônia ou hipersonia;
- Fadiga extrema e baixa energia ;
- Sintomas psicossomáticos, como dores no estômago e no peito; e
- Sensação de aperto na garganta ou dificuldade para respirar.
3. Sintomas Cognitivos:
- Dificuldade de concentração e lapsos de memória;
- Pensamentos recorrentes sobre a pessoa falecida;
- Sentimento de irrealidade; e
- Questionamento sobre o sentido da vida e da morte.
4. Sintomas Comportamentais:
- Isolamento social e afastamento de atividades habituais;
- Evitação de lugares ou objetos associados à pessoa falecida;
- Busca por sinais ou presenças do ente querido falecido; e
- Mudanças nos hábitos diários e na rotina.
Sabe quando dizem que o luto parece uma montanha-russa? Pois é, isso é verdade! Às vezes, de manhã, você acorda chateada, triste, e depois fica bem. No outro dia, você está sorrindo e feliz, e, de repente, pode ficar triste e melancólica. E assim seguem os dias… Há momentos em que parece que faz tanto tempo que ela se foi, e outros em que parece que foi ontem. Há dias em que a saudade aperta e dias em que você se pega sorrindo ao lembrar dos momentos bons que passaram juntas.
O luto não é um processo fácil, pelo contrário, é extremamente cansativo.
E quando esse processo vai terminar? Em um ano? Em cinco? Em dez?
A verdade é que o luto não tem prazo para acabar… porém aprendemos a conviver com ele. Aos poucos, vamos conseguindo acomodar a dor e a saudades nos nossos corações, mas eles sempre estarão lá…
Como todas as pessoas, tenho altos e baixos. Para enfrentar esse processo, precisei recorrer a diversos recursos, como a conexão com a família e amigos, grupos de apoio, terapia, trabalho, estudos, exercícios físicos e viagens.
Uma vez, ouvi de uma querida psicóloga que a dor não é amenizada apenas com o tempo, mas também com o que fazemos nesse tempo.
Por mais que a morte seja a única certeza que temos na vida, ninguém gosta de falar sobre ela ou está verdadeiramente preparado para enfrentá-la. No entanto, algumas estratégias podem ajudar no processo de luto e facilitar a adaptação à perda:
- Apoio social: O suporte de amigos, familiares e grupos de apoio pode ajudar a compartilhar a dor e reduzir o isolamento. (Parkes & Prigerson, 2010);
- Expressão emocional: Permitir-se sentir e expressar emoções, seja por meio de conversas, escrita ou outras formas de arte, contribui para a elaboração do luto. (Rando, 1993);
- Cuidado com a saúde física: Manter uma rotina equilibrada, com sono adequado, alimentação saudável e atividade física regular, pode auxiliar no bem-estar durante o luto. (Worden, 2013);
- Apoio profissional: Psicoterapia e aconselhamento podem ser fundamentais, especialmente em casos de luto complicado. (Neimeyer, 2001);
- Ritualização da despedida: Rituais, como cerimônias religiosas ou homenagens personalizadas, ajudam no processo de aceitação da perda e na construção de um novo significado para a ausência. (Klass, Silverman & Nickman, 1996).
O luto nos transforma. Ele nos ensina sobre o amor, a saudade e a força que nem sabíamos ter. Não há um caminho único ou um tempo certo para superar a perda, mas há a certeza de que seguimos em frente, passo a passo, aprendendo a carregar a ausência com mais leveza. Se você está passando por esse processo, saiba que não está sozinho. Permita-se sentir, viver, honrar as memórias e, aos poucos, reencontrar sentido na caminhada. A dor não apaga o amor; pelo contrário, ela é a prova de que ele existiu e continua vivendo dentro de nós.
Bibliografia:
Klass, D., Silverman, P. R., & Nickman, S. L. (1996). Laços contínuos: Novas compreensões do luto. Routledge.
Kübler-Ross, E., & Kessler, D. (2005). Sobre a morte e o morrer. Martins Fontes.
Neimeyer, R. A. (2001). Reconstrução de significado e a experiência da perda. American Psychological Association.
Parkes, C. M., & Prigerson, H. G. (2010). Luto: Estudos sobre o luto na vida adulta. Routledge.
Rando, T. A. (1993). Tratamento do luto complicado. Research Press.
Stroebe, M., & Schut, H. (1999). O modelo de processo duplo de enfrentamento do luto: Justificativa e descrição. Death Studies, 23(3), 197-224.
Worden, J. W. (2013). Aconselhamento e terapia do luto: Um manual para profissionais de saúde mental. Springer Publishing.