Luto: Como Enfrentar a Dor da Perda de Quem Amamos

Psicóloga Luciana Amorim

Em fevereiro de 2024, eu perdi minha mãe… Confesso que foi o pior dia da minha vida. Não foi apenas a perda de alguém; senti que perdi uma parte da minha origem, do meu porto seguro, da minha felicidade e do meu aconchego.

Depois desse dia, pude sentir na pele como o luto é um processo muito estranho, por diversos aspectos. Parece que o seu mundo desmoronou e que você nunca mais conseguirá viver sem aquela pessoa. Acha que jamais voltará a sorrir como antes ou a sentir felicidade.

Além da tristeza, a pessoa enlutada pode ter sintomas físicos. Ou seja, não é só a alma que está machucada, o corpo também sente! No meu caso, minha ansiedade aumentou demais. Tive alterações na memória, na concentração, no sono, além de irritabilidade, dor no estômago e por aí vai (rs).

De acordo com a literatura sobre o luto, esses sintomas variam de pessoa para pessoa, dependendo da intensidade do vínculo, das circunstâncias da perda e dos recursos de enfrentamento individuais. Vejamos alguns deles:

1. Sintomas Emocionais:

  • Tristeza profunda e sentimento de vazio;
  • Culpa e autorrecriminação;
  • Ansiedade e medo;
  • Raiva, que pode ser direcionada a si mesmo, a outros ou ao falecido; e
  •  Solidão e sensação de isolamento.

2. Sintomas Físicos:

  • Alterações no apetite e no peso;
  • Distúrbios do sono, como insônia ou hipersonia;
  • Fadiga extrema e baixa energia ;
  • Sintomas psicossomáticos, como dores no estômago e no peito; e
  • Sensação de aperto na garganta ou dificuldade para respirar.

3. Sintomas Cognitivos:

  • Dificuldade de concentração e lapsos de memória;
  • Pensamentos recorrentes sobre a pessoa falecida;
  • Sentimento de irrealidade; e
  • Questionamento sobre o sentido da vida e da morte.

4. Sintomas Comportamentais:

  • Isolamento social e afastamento de atividades habituais;
  • Evitação de lugares ou objetos associados à pessoa falecida;
  • Busca por sinais ou presenças do ente querido falecido; e
  • Mudanças nos hábitos diários e na rotina.

Sabe quando dizem que o luto parece uma montanha-russa? Pois é, isso é verdade! Às vezes, de manhã, você acorda chateada, triste, e depois fica bem. No outro dia, você está sorrindo e feliz, e, de repente, pode ficar triste e melancólica. E assim seguem os dias… Há momentos em que parece que faz tanto tempo que ela se foi, e outros em que parece que foi ontem. Há dias em que a saudade aperta e dias em que você se pega sorrindo ao lembrar dos momentos bons que passaram juntas.

O luto não é um processo fácil, pelo contrário, é extremamente cansativo.

E quando esse processo vai terminar? Em um ano? Em cinco? Em dez?
A verdade é que o luto não tem prazo para acabar… porém aprendemos a conviver com ele. Aos poucos, vamos conseguindo acomodar a dor e a saudades nos nossos corações, mas eles sempre estarão lá…

Como todas as pessoas, tenho altos e baixos. Para enfrentar esse processo, precisei recorrer a diversos recursos, como a conexão com a família e amigos, grupos de apoio, terapia, trabalho, estudos, exercícios físicos e viagens.

Uma vez, ouvi de uma querida psicóloga que a dor não é amenizada apenas com o tempo, mas também com o que fazemos nesse tempo.

Por mais que a morte seja a única certeza que temos na vida, ninguém gosta de falar sobre ela ou está verdadeiramente preparado para enfrentá-la. No entanto, algumas estratégias podem ajudar no processo de luto e facilitar a adaptação à perda:

  • Apoio social: O suporte de amigos, familiares e grupos de apoio pode ajudar a compartilhar a dor e reduzir o isolamento. (Parkes & Prigerson, 2010);
  • Expressão emocional: Permitir-se sentir e expressar emoções, seja por meio de conversas, escrita ou outras formas de arte, contribui para a elaboração do luto. (Rando, 1993);
  • Cuidado com a saúde física: Manter uma rotina equilibrada, com sono adequado, alimentação saudável e atividade física regular, pode auxiliar no bem-estar durante o luto. (Worden, 2013);
  • Apoio profissional: Psicoterapia e aconselhamento podem ser fundamentais, especialmente em casos de luto complicado. (Neimeyer, 2001);
  • Ritualização da despedida: Rituais, como cerimônias religiosas ou homenagens personalizadas, ajudam no processo de aceitação da perda e na construção de um novo significado para a ausência. (Klass, Silverman & Nickman, 1996).

O luto nos transforma. Ele nos ensina sobre o amor, a saudade e a força que nem sabíamos ter. Não há um caminho único ou um tempo certo para superar a perda, mas há a certeza de que seguimos em frente, passo a passo, aprendendo a carregar a ausência com mais leveza. Se você está passando por esse processo, saiba que não está sozinho. Permita-se sentir, viver, honrar as memórias e, aos poucos, reencontrar sentido na caminhada. A dor não apaga o amor; pelo contrário, ela é a prova de que ele existiu e continua vivendo dentro de nós.

Bibliografia:

Klass, D., Silverman, P. R., & Nickman, S. L. (1996). Laços contínuos: Novas compreensões do luto. Routledge.

Kübler-Ross, E., & Kessler, D. (2005). Sobre a morte e o morrer. Martins Fontes.

Neimeyer, R. A. (2001). Reconstrução de significado e a experiência da perda. American Psychological Association.

Parkes, C. M., & Prigerson, H. G. (2010). Luto: Estudos sobre o luto na vida adulta. Routledge.

Rando, T. A. (1993). Tratamento do luto complicado. Research Press.

Stroebe, M., & Schut, H. (1999). O modelo de processo duplo de enfrentamento do luto: Justificativa e descrição. Death Studies, 23(3), 197-224.

Worden, J. W. (2013). Aconselhamento e terapia do luto: Um manual para profissionais de saúde mental. Springer Publishing.

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